Aproveitando o confinamento para falar de sexo


Em evento virtual, médica e donos de empresas de brinquedos eróticos lamentam o tabu que envolve a sexualidade madura A vantagem do mundo virtual é ter podido participar de um seminário sobre longevidade em Londres. O encontro, chamado “Longevity Leaders”, ocorreu de 19 a 22 de maio, apoiado num tripé de discussões relacionadas ao envelhecimento: ciência, bem-estar e riscos. Sexo inclusive. Esse painel reuniu a médica Louise Newson, que ano passado lançou o livro “Menopause manual” (“Manual da menopausa”), um best-seller na Amazon, e dois representantes da indústria de brinquedos eróticos: Adam Lewis e Samantha Evans. Para a doutora Louise, a pandemia “é uma boa oportunidade para refletir sobre o bem-estar e explorar o próprio corpo, deixando de se envergonhar”.
Sexualidade madura: em evento virtual, médica e donos de empresas de brinquedos eróticos lamentaram o tabu que envolve o tema
Ri Butov por Pixabay
A afirmação vem da constatação da perda de autoestima que as mulheres enfrentam depois da menopausa. “Os sintomas da menopausa são físicos e psicológicos e as mulheres se sentem desconfortáveis com seu corpo. Cerca de 75% apresentam ressecamento vaginal, mas ficam constrangidas de falar sobre o assunto e se retraem, abrindo mão de explorar sua sexualidade. É uma pena, porque esse é um problema que pode ser contornado, evitando que o sexo seja doloroso. A pós-menopausa poderia ser um período libertador”, analisou a médica, acrescentando que as mudanças de humor nessa fase levam muitas pacientes a serem diagnosticadas com depressão: “elas passam a tomar antidepressivos, que afetam negativamente a libido, quando poderiam se beneficiar, com a devida supervisão médica, com a reposição hormonal, já que o tratamento tem que ser personalizado”.
Com formação em enfermagem, Samantha Evans é cofundadora da Jo Divine, uma empresa de objetos eróticos, e também escreve sobre como ter mais prazer. Lamenta que os profissionais de saúde não tenham treinamento para orientar seus pacientes e garante que dicas simples podem melhorar a vida íntima das pessoas e que os brinquedos eróticos ajudam a conhecer o corpo: “apesar de vistos como sujos, são testados e seguros. Trazem o sexo de volta para pessoas que tinha desistido dele. E quando me perguntam como são os brinquedos eróticos para idosos, fico perplexa: claro que são os mesmos dos mais jovens, por que seriam diferentes?”.
Adam Lewis, criador do Hot Octopus, diz que a forma como a sociedade se relaciona com o tema é cheia de estereótipos: “o sexo não acaba aos 50 ou 60 anos. Os corpos mudam, mas a sexualidade permanece, só que a falta de uma discussão ampla e aberta leva ao desconhecimento e ao preconceito. Nem sempre é possível o homem tomar Viagra ou outra medicação similar, mas há objetos eróticos capazes de manter a ereção”.
Os três concordaram que o preconceito resulta inclusive na falta de políticas públicas para os idosos nessa área: “há políticas e campanhas voltadas para adolescentes e mulheres jovens, e um enorme silêncio se abate sobre quem tem mais de 50. Esse grupo acaba ficando exposto a doenças sexualmente transmissíveis”, avaliou Louise Newson.

By Tribuna ABC

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