Estudo detalha como coronavírus se espalhou em hospital na África do Sul e aponta equipe como fator de contaminação


Surto hospitalar aconteceu em março dentro de hospital em Durban. Em oito semanas, hospital tinha 39 pacientes e 80 funcionários infectados, com 15 mortes — metade do número de mortos da província KwaZulu-Natal na época. Hospital St. Augustine, da África do Sul
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Cientistas da Universidade de KwaZulu-Natal publicaram no último dia 22 uma análise que mostra, passo a passo, como o coronavírus se espalhou dentro do hospital St. Augustin, em Durban, na África do Sul.
Ao documentar a rota da disseminação, o relatório apresenta “lições valiosas sobre como as instituições de saúde precisam funcionar na era Covid”, na avaliação do cientista Salim Abdool Karim, à revista acadêmica “Science”.
Tudo começou em 9 de março, com a visita de um paciente que tinha ido à Europa e que apresentava sintomas do Covid-19. Oito semanas depois, o hospital tinha 39 pacientes e 80 funcionários infectados, com 15 mortes – metade do número de mortos da província KwaZulu-Natal na época.
O estudo sugere que o surto hospitalar foi causado por uma única introdução e que os pacientes raramente infectaram outros pacientes. Em vez disso, o vírus teria sido transportado dentro do hospital pela equipe (enfermeiros, médicos e faxineiros) e nas superfícies de equipamentos médicos.
“É uma história notável e um testemunho da capacidade do vírus de se espalhar por uma instalação se não houver controles apropriados”, diz Michael Klompas, especialista em doenças infecciosas da Harvard Medical School, que não está envolvido no estudo.
O relatório rastreia a propagação do vírus por cinco enfermarias do hospital, incluindo neurologia, cirurgia e unidades de terapia intensiva (UTIs), além de um lar de idosos e um centro de diálise nas cercanias. Nenhuma infecção teria ocorrido na UTI voltada ao tratamento de Covid-19, talvez pelos cuidados redobrados naquela área.
Passo a passo
Segundo o relatório, o primeiro paciente, que procurou o hospital com sintomas do coronavírus e ficou apenas algumas horas no hospital, provavelmente transmitiu o vírus para um paciente idoso admitido no mesmo dia com um AVC. Os dois estavam no mesmo departamento de emergência e passaram pelo mesmo local no hospital. Além disso, foram atendidos pelo mesmo médico.
O idoso apresentou febre no dia 13 de março e a enfermeira que cuidou do seu caso desenvolveu os sintomas em 17 de março. Outros quatro pacientes podem ter pego o vírus do idoso, incluindo uma mulher de 46 anos admitida por asma grave, que ficava numa cama na frente dele. O senhor e a mulher morreram. No geral, porém, foram poucas as infecções entre pacientes.
A disseminação teria ocorrido por meio dos funcionários. “Acreditamos que provavelmente tenha sido pelas mãos da equipe e por compartilhamento de itens de assistência ao paciente, como termômetros, medidores de pressão arterial e estetoscópios”, diz Richard Lessells, especialista em doenças infecciosas e um dos líderes do estudo.
“A alta taxa de funcionários positivos — 80 em 119 casos — indica que eles têm sido importantes transmissores e que a triagem dos funcionários é uma medida essencial para impedir a disseminação”, diz Jens Van Praet, especialista em medicina interna do Hospital AZ Sint-Jan AV, na Bélgica.
O estudo foi possível graças ao baixo número de contágios em março na África do Sul. Atualmente, são cerca de 23 mil casos no país, com 481 mortes.
O relatório, por fim, apresenta recomendações para reduzir riscos, incluindo a divisão do hospital em zonas “verde”, “amarela” e “vermelha” com base no risco de exposição ao Covid-19, limitando o movimento das equipes e promovendo testes semanais nos profissionais da linha de frente.
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By Tribuna ABC

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