Estudo de Oxford com 1,5 mil pacientes não encontra benefícios em tratar Covid-19 com hidroxicloroquina e ensaio é suspenso


Decisão foi comunicada nesta sexta-feira (5) por cientistas dos ensaios ‘Recovery’, que envolvem 11 mil pacientes em todo o Reino Unido. Autores pedem ‘retratação’ de estudo sobre cloroquina publicado na ‘The Lancet’
Foto mostra comprimidos de hidroxicloroquina, substância usada para tratar malária e algumas doenças autoimunes, como lúpus.
John Locher/AP
Cientistas da Universidade de Oxford, que lideram um estudo sobre tratamentos para Covid-19 em mais de 11 mil pacientes no Reino Unido, anunciaram nesta sexta-feira (5) que não encontraram benefícios em tratar a Covid-19 com hidroxicloroquina. Por isso, essa parte dos estudos, que envolve 1,5 mil pessoas, será suspensa.
“Concluímos que não há efeito benéfico da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com Covid-19”, anunciaram os líderes dos ensaios. “Decidimos, portanto, interromper a inscrição dos participantes no braço da hidroxicloroquina do estudo Recovery com efeito imediato”.
Segundo os pesquisadores, a parte da pesquisa que testou a eficácia da hidroxicloroquina comparou os resultados de 1.542 pacientes que usaram o remédio contra os de outras 3.132 pessoas, que foram submetidas ao cuidado padrão (o grupo controle). Eles concluíram que “não houve diferença significativa na mortalidade” entre os pacientes que usaram a substância.
“Também não houve evidência de efeitos benéficos na duração da internação hospitalar ou em outros resultados. Esses dados excluem de forma convincente qualquer benefício significativo da hidroxicloroquina em relação à mortalidade em pacientes hospitalizados com Covid-19”, disseram.
Os pesquisadores afirmaram que os resultados completos da pesquisa serão divulgados “em breve”.
Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global em Oxford e pesquisador-chefe do estudo, declarou que “hidroxicloroquina e cloroquina receberam muita atenção e têm sido amplamente utilizadas no tratamento de pacientes com Covid, apesar da ausência de boas evidências”.
“O estudo Recovery mostrou que a hidroxicloroquina não é um tratamento eficaz em pacientes hospitalizados com Covid-19. Embora seja decepcionante que esse tratamento tenha se mostrado ineficaz, ele nos permite concentrar o cuidado e a pesquisa em medicamentos mais promissores”, ponderou Horby.
Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia na universidade e vice-pesquisador-chefe, afirmou que os resultados preliminares do estudo são “bastante claros”.
“A hidroxicloroquina não reduz o risco de morte entre pacientes hospitalizados com esta nova doença. Esse resultado deve mudar a prática médica em todo o mundo e demonstra a importância de grandes ensaios randomizados para informar as decisões sobre a eficácia e a segurança dos tratamentos”, disse Landray.
Ensaios Recovery
Os ensaios Recovery são um conjunto de testes feitos com mais de 11 mil pacientes internados por Covid-19 no Reino Unido. As pessoas são divididas, de forma aleatória, entre os seguintes tipos de tratamento:
Lopinavir-Ritonavir (comumente usado para tratar o HIV);
Dexametasona em baixa dose (um tipo de esteroide, usado em várias doenças para reduzir a inflamação)
Hidroxicloroquina, que é usada para tratar malária e algumas doenças autoimunes, como o lúpus (ensaio suspenso)
Azitromicina (antibiótico)
Tocilizumab (tratamento anti-inflamatório administrado por injeção)
Plasma convalescente (coletado de doadores que se recuperaram do Covid-19, com anticorpos para o novo coronavírus (Sars–CoV-2).
Três autores de estudo sobre hidroxicloroquina pedem retratação na revista Lancet
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By Tribuna ABC

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