Globalmente ameaçado, cara-pintada é uma das aves menos conhecidas do Brasil

Cara-pintada é ave rara, ameaçada e difícil de ser observada pela agilidade — Foto: Carlos Gussoni 1 de 3
Cara-pintada é ave rara, ameaçada e difícil de ser observada pela agilidade — Foto: Carlos Gussoni

Cara-pintada é ave rara, ameaçada e difícil de ser observada pela agilidade — Foto: Carlos Gussoni

De porte pequeno, cores discretas e difícil de ser observado. Assim é o cara-pintada, uma das aves exclusivas do Brasil e menos conhecidas pelos cientistas. A espécie, que foi descrita em 1987 pelo ornitólogo Dante Teixeira, é uma das raridades do Centro de Endemismo Pernambuco, área que abrange a Mata Atlântica do Nordeste ao norte do rio São Francisco e está extremamente ameaçada pelo desmatamento.

Com a plumagem predominantemente verde olivácea, ela pode parecer “comum” à primeira vista, mas apesar de ter um traje popularesco entre seus familiares, o cara-pintada tem características únicas que o difere dos demais. “Na face é possível notar um supercílio esbranquiçado e desenhos que originaram o nome popular”, explica Carlos Gussoni, ornitólogo que estuda a ave.

Se por um lado essa ave de 12 centímetros pode não chamar atenção, por outro ela merece todo o destaque. Ela é a única representante do gênero Phylloscartes que pode ser encontrada na floresta Atlântica ao norte do rio São Francisco. Está globalmente criticamente ameaçada de extinção e intriga pesquisadores por ser pouco conhecida.

Cara-pintada é ágil e vive na copa das árvores

Cara-pintada é ágil e vive na copa das árvores

Em plataformas digitais é possível encontrar fotos dessa espécie feitas por observadores de aves, mas ainda faltam informações sobre hábitos e comportamentos reprodutivos e alimentares dessa ave. Para desvendar alguns mistérios sobre ela, os pesquisadores Carlos Gussoni e Tatiana Pongiluppi se dedicaram durante sete anos em coletar dados sobre o cara-pintada.

Observar a espécie em campo é um grande desafio, afinal é uma ave inquieta e que vive na copa das árvores, o que dificulta a visualização. Os biólogos monitoraram o cara-pintada na Serra do Urubu, em Pernambuco e tiveram o apoio da ONG SAVE Brasil para estudar especificamente esta raridade. Já era de conhecimento dos cientistas que o cara-pintada se alimentava de artrópodes, porém eles puderam nessa longa jornada verificar mais detalhes da dieta desse bicho misterioso.

“Dentre as presas consumidas, encontram-se esperanças e lagartas de borboletas. Para entender melhor como a espécie procura e captura suas presas, realizamos buscas ativas por indivíduos e quando encontrávamos, seguíamos pelo maior tempo possível, anotando informações detalhadas sobre as manobras utilizadas para a captura, local de captura, o que foi capturado, frequência de cada comportamento e outros detalhes”, comenta Gussoni.

De plumagem discreta ave possui particularidades que a distingue dos parentes — Foto: Carlos Gussoni 2 de 3
De plumagem discreta ave possui particularidades que a distingue dos parentes — Foto: Carlos Gussoni

De plumagem discreta ave possui particularidades que a distingue dos parentes — Foto: Carlos Gussoni

Em relação à reprodução da espécie ainda não se sabe quase nada, as poucas informações que existem deste ciclo foram obtidas há 30 anos. “Sobre a reprodução, não há informações mais detalhadas. Um ninho foi encontrado em outubro de 1990 por Bret Whitney a 6 metros acima do solo e foram observados adultos alimentando filhotes nos meses de outubro e novembro”, comenta o pesquisador.

Uma curiosidade analisada pelos pesquisadores é que o cara-pintada pode eventualmente se deslocar junto com outras aves, em bandos mistos, que são grupos compostos por espécies diferentes. “O cara-pintada é um seguidor pouco frequente de bando misto, mas durante esses anos que monitoramos a espécie observamos quatro vezes a presença da ave nesses grupinhos”, comenta Gussoni.

Torre de observação em RPPN permite visualizar a espécie com mais facilidade — Foto: Carlos Gussoni 3 de 3
Torre de observação em RPPN permite visualizar a espécie com mais facilidade — Foto: Carlos Gussoni

Torre de observação em RPPN permite visualizar a espécie com mais facilidade — Foto: Carlos Gussoni

Nessas observações os ornitólogos notaram que o cara-pintada se juntou com espécies comuns como o pitiguari, cambacica, e pipira-preta, até espécies raras como o zidedê-do-nordeste, uma ave que também está globalmente ameaçada de extinção. “Até o momento já foram registradas 31 espécies nos bandos mistos aos quais o cara-pintada se associa. Vale ressaltar que é algo eventual, sendo encontrado na maioria das vezes fora desses bandos, solitários ou aos pares”, acrescenta.

Na RPPN Pedra D’Antas, no município de Lagoa dos Gatos (PE), é possível observar essa raridade com maior facilidade, graças à uma torre de observação que foi construída no local. “Como o cara-pintada vive nas copas mais altas da floresta não é fácil de ser encontrado e são raras as situações nas quais você consegue uma imagem ao nível do olho, mas com esta estrutura isso é possível”, explica o ornitólogo.

O cara-pintada pode ser encontrado em menos de 20 locais nos estados de Alagoas e Pernambuco, sendo que a minoria dessas áreas é protegida por lei.

By Tribuna ABC

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