Registros de mortes por causa indeterminada crescem 43%

Os cartórios brasileiros registraram alta de 43% no número de mortes por causa indeterminada notificadas desde o  início da pandemia de coronavírus. O aumento analisado refere-se ao período de 26 de fevereiro, data do primeiro caso registrado no Brasil, até 17 de abril.

Segundo especialistas, o aumento de óbitos sem causa definida pode estar associado a subnotificação de casos no país, com vítimas da covid-19 que morreram sem receber o diagnóstico da doença.

Em 2020, o Brasil teve 1.329 mortes por causa indeterminada no período mencionado. Em 2019, 925 óbitos do tipo foram registrados pelos cartórios no mesmo intervalo. Os dados foram divulgados em novo painel do Portal da Transparência do Registro Civil, mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).

Se analisadas as mortes também por faixa etária, o aumento de óbitos por causa indeterminada é maior entre idosos, principal grupo de risco para complicações do coronavírus.

O número de mortes sem causa definida entre pessoas com idade a partir de 60 anos passou de 568 em 2019 para 879 em 2020, com alta de 54,8%. Já entre indivíduos com menos de 60 anos, a variação foi de 30,5% – subiu de 321 para 419 no mesmo intervalo de tempo.

Para Fátima Marinho, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do grupo de especialistas que auxiliou a Arpen-Brasil na elaboração do painel, é provável que o aumento das mortes esteja ligado à pacientes com a covid-19 que não tiveram acesso ao sistema de saúde.

Fátima diz que outra razão que pode estar afetando a alta dos registros é o provável crescimento de óbitos por outras causas que não estão chegando aos hospitais pela dificuldade de conseguir leitos. “Provavelmente teremos um aumento de mortes por enfarte, AVC e outros problemas registrados em casa porque as pessoas estão adiando a ida ao pronto-socorro ou tendo de disputar leitos”, diz a especialista.

Pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a médica Margareth Dalcomo também acredita que a maioria dos registros está relacionada a covid-19. Para ela, mesmo em casos de mortes em casa, é fundamental que seja realizado um teste após o óbito para que seja conhecida a causa real do falecimento.

“Não tenho dúvidas de que um porcentual muito grande de mortes sem causa definida são por covid-19. Todas essas causas, tanto mortes por problemas respiratórios quanto causas indeterminadas, precisarão ser revisitadas para que possamos determinar o real impacto epidemiológico que o coronavírus causou no Brasil”, diz.

Conforme os dados do ministério da Saúde, há 1.136 mortes sob investigação no país. O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, que ressaltou que as Regiões Sul e Sudeste ainda não chegaram ao pico de casos, o que só deve ocorrer no próximo mês.

*Com informações do Estadão Conteúdo

By Tribuna ABC

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