Covid-19: Campinas tem queda de 45% na criação de empresas e 'segura' baixas de negócios na quarentena

Comércio fechado no Centro de Campinas (SP) foi uma das medidas para conter o avanço da pandemia de Covid-19. — Foto: Reprodução/EPTV Comércio fechado no Centro de Campinas (SP) foi uma das medidas para conter o avanço da pandemia de Covid-19. — Foto: Reprodução/EPTV

Comércio fechado no Centro de Campinas (SP) foi uma das medidas para conter o avanço da pandemia de Covid-19. — Foto: Reprodução/EPTV

A quarentena para conter o avanço da Covid-19 resultou em uma queda de 45% na criação de empresas em Campinas (SP). Dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) apontam reflexos mais importantes da pandemia a partir do mês de abril. Ao todo 1.260 novos negócios surgiram até julho em meio às medidas de restrição, contra 2.293 no mesmo período do ano passado.

O fechamento de empreendimentos, no entanto, foi contido, com 914 registros. Queda de 32,6% frente a 2019. Resultado das medidas dos governos e também da consciência e flexibilização dos credores em relação aos prazos, segundo o economista e professor da PUC-Campinas, Roberto Brito.

“Muitas pessoas poderiam entender que haveria um número maior de quebra das empresas, dadas as dificuldades econômicas. Nesse contexto, há um nível de tolerância maior dos credores na tentativa de fazer com que as empresas possam continuar existindo. […] Uma solidariedade presente no mundo corporativo em função da própria autossobrevivência dos credores de uma maneira geral”, explica.

Campinas entrou em quarentena no dia 22 de março, com previsão inicial de manter as restrições até 12 de abril. No entanto, o agravamento da pandemia, alta de casos e mortes, provocou a extensão do prazo em todo o estado, que passou a submeter a reabertura das atividades não essenciais ao Plano São Paulo do governo estadual. Os serviços foram muito afetados e a quarentena persiste.

O balanço epidemiológico mais atualizado aponta 23.313 moradores infectados na metrópole, sendo que 847 morreram vítimas do novo coronavírus.

Desde o último fim de semana, a região de Campinas passou para a fase 3 – amarela, com reabertura autorizada ao público em restaurantes, academias, salões de beleza, parques e clubes.

Negócios impactados entre abril e julho

O levantamento da Jucesp, feito a pedido do G1, mostra que os dois primeiros meses cheios da quarentena, abril e maio, resistiram na criação de empreendimentos, e também nas baixas. Em junho, o cenário começa a mudar: mais empresas surgem, e o município amarga mais negócios encerrados. Veja a evolução no gráfico abaixo.

“É uma situação de inanição do meio corporativo. Há uma inibição da ação empreendedora, assim como no processo que faz com que as pessoas tomem decisões de baixas das empresas”, explica Brito.

Criação e fechamento de empresas em Campinas na quarentena da Covid-19
Fonte: Jucesp

Segundo Brito, a formalização de um negócio próprio foi a alternativa para alguns daqueles que enfrentaram demissões com parte da estrutura econômica da cidade paralisada.

“De março para cá, houve uma ação muito grande de desligamentos de profissionais. Muitas dessas pessoas não estão conseguindo encontrar portas para entrar no mercado de trabalho. É inevitável que elas se coloquem em movimento. Para algumas, a saída é empreender, usando o FGTS e as indenizações”, explica.

Redução foi menor no acumulado do ano

No acumulado do ano, Campinas teve 2.854 empresas constituídas, com destaque para o mês de janeiro, que teve 611 adesões. A redução diante dos números de 2019 no período foi menor do que na quarentena, 23,9%.

As baixas consolidadas também foram menores nos primeiros sete meses: 1.751, contra 2.365 no ano passado. Uma diferença de 25,9%.

Empresas criadas e fechadas em 2019 e 2020 em Campinas
Fonte: Jucesp

“[Houve] estagnação ou diminuição intensa do ritmo da atividade econômica, tanto nas constituições, quanto nas baixas. Isso está relacionado à queda da atividade econômica, fruto do processo de isolamento social”, diz Brito.

Vista de Campinas no segundo mês de quarentena contra o avanço do coronavírus. — Foto: Reprodução/EPTV Vista de Campinas no segundo mês de quarentena contra o avanço do coronavírus. — Foto: Reprodução/EPTV

Vista de Campinas no segundo mês de quarentena contra o avanço do coronavírus. — Foto: Reprodução/EPTV

Quais as chances das novas empresas

Alguns setores se beneficiaram das demandas que surgiram com a pandemia, como o de logística (distribuição e entrega) e o de tecnologia da informação, segundo o economista. Mas ele alerta que há negócios menos duradouros, efêmeros, que precisaram se estabelecer para garantir o sustento de famílias.

“Negócios mais estruturados podem estar sendo abertos, sem dúvida. Para alguns é oportuna essa situação. […] Tem que chamar a atenção para oportunidades efêmeras, resultado desse momento específico que estamos vivenciando, e podem não durar na medida que a economia for lentamente sendo retomada”.

Ele acredita que a maioria dos negócios abertos é de microempreendedores individuais.

“‘Eu tenho que fazer algo, não posso ficar esperando’. É muito mais no ímpeto de sobrevivência do que propriamente uma ação empreendedora estruturada. É esse o contexto. É inevitável que as pessoas, sobretudo para os negócios, tentem formalizar”.

Brito analisa, ainda, que a pandemia fortalece as mudanças impostas pela reforma trabalhista e pela revolução industrial 4.0, em curso há cerca de cinco anos. São movimentos que já sinalizavam mudanças estruturais no mercado de trabalho.

“Com a pandemia ganham força porque tornou-se possível muitas atividades, antes presencias, à distancia, sem necessidade de investimento e com a ousadia imposta pelas circunstâncias. A necessidade neste contexto fez com que as empresas, mesmo as mais conservadores, ousassem em estabelecer novas relações de contratações. Essas são mudanças estruturais devem ser perenes”, completa.

By Tribuna ABC

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