
Mogi das Cruzes completa 460 anos nesta terça-feira
Mogi das Cruzes completa 460 anos nesta terça-feira (1º). A cidade, que soma a maior população do Alto Tietê, atrai pessoas de várias regiões do estado de São Paulo por sua riqueza cultural. São eventos e festas tradicionais, esperadas todos os anos por muita gente.
No entanto, em 2020, a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) exigiu criatividade. Os momentos especiais que tornam Mogi das Cruzes uma cidade querida e receptiva, precisaram ser adiados, cancelados ou adaptados. A expectativa, agora, é por um 2021 melhor.
Renovação da fé

Festa do Divino de Mogi das Cruzes chega ao fim com transmissão pela internet e fiéis à distância — Foto: Cássio Andrade/TV Diário
Festa do Divino de Mogi das Cruzes chega ao fim com transmissão pela internet e fiéis à distância — Foto: Cássio Andrade/TV Diário
As bandeiras do Divino Espirito Santo, que acompanham os festeiros e capitães de mastro, ainda são de 2019. Eles decidiram não apresentar as de 2020, pois o povo não estaria presente e a tradicional ‘benção de todas as bandeiras’ não seria realizada esse ano.
Já estava quase tudo pronto quando a festa mais tradicional da cidade foi cancelada por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Para quem ama a celebração, não foi fácil adiar tudo que havia sido planejado com tanta dedicação.
No entanto, a decisão de manter a parte religiosa foi fundamental para fortalecer a fé nesse período tão delicado, como diz a festeira Cícera Alecxandra de Oliveira Margarido.
“Não tinha como não acontecer essa parte da festa. Primeiro porque a gente precisa de oração. Depois porque é a parte mais importante, a parte que é a estrutura da festa. Para que ela aconteça em 2021, a gente precisa que a gente esteja em oração em 2020, todo o ano de 2020. O povo estava esperando e eles ficaram muito felizes porque, de maneira especial, aconteceu a festa. A festa não aconteceu lá na catedral. A festa aconteceu na casa de cada um”, comenta.
“Algumas pessoas fizeram altar, outras nos recebiam com as bandeiras, com pano vermelho, com o que conseguia simbolizar. Foi de uma emoção assim, olha… Deus preparou a festa do jeito que dava. A festa aconteceu muito bonita”, completa.
Os fiéis puderam acompanhar as celebrações pela internet. As alvoradas que costumam reunir milhares de pessoas ainda na madrugada foram, modestas mas emocionantes. As missas da novena, que antes eram realizadas apenas na catedral, percorreram as paróquias. No domingo de Pentecostes, mais uma vez, a tecnologia uniu os devotos em uma corrente de paz e orações.
Segundo historiadores, a Festa do Divino existe em Mogi das Cruzes, pelo menos, desde o final do século 17. As medidas adotadas por causa da pandemia já refletem na programação de 2021, mas a esperança é poder realizar a festa com todos os seus significados.
“A gente não consegue fazer nenhuma atividade. Nossas coras acontecem de maneira online, mas nossos chá-bingo não. Era a maneira que nós tínhamos de arrecadar verbas para conseguir que a festa acontecesse. Jantares, acho que não será possível. Pode ser que o ano que vem”, comenta Cícera.
“Então, além dessa parte financeira, nós temos desafios de entender, imaginar e já programar: se a gente não conseguir chegar até a festa na normalidade? Aí eu fico pensando: ‘nossa, que lindo que é, por exemplo, a procissão de pentecostes acontecendo’. A igreja cheia, o povo todo cantando”, conclui.
Cancelamento

Tooro Nagashi na Festa do Akimatsuri em Mogi das Cruzes — Foto: Anderson Prado/Divulgação
Tooro Nagashi na Festa do Akimatsuri em Mogi das Cruzes — Foto: Anderson Prado/Divulgação
Mogi das cruzes tem um calendário cultural rico em eventos que preservam costumes e tradições. O Akimatsuri, festival de outono da colônia japonesa, atrai todos os anos cerca de 80 mil pessoas. Um evento grandioso que tem como objetivo agradecer a colheita
Realizado desde 1986 pelo Bunkyô, com apoio de voluntários, o evento tem como missão ajudar a associação no resgate e na divulgação da cultura nipônica. As manifestações artísticas enchem os olhos, a culinária dá água na boca. Aliado a tudo isso, o evento divulga a atividade agrícola da região, que faz parte do cinturão verde de São Paulo.
Outro momento que merece destaque no Akimatsuri é o ritual do Tooro Nagashi, barquinhos de isopor confeccionados com uma vela ao centro. É um dos rituais típicos japoneses mais antigos. No japão é realizado no mês de agosto, no Dia de Finados, por acreditar que as almas dos falecidos retornam às casas de seus familiares na data. Em 2020, porém, os barquinhos não foram para água, como lembra o presidente do Bunkyo, Frank Tuda.
“O evento já praticamente estava pronto. Íamos começar a montagem do Akimatsuri. A gente não sabia o que estava acontecendo, como seria tudo isso. Precisamos tomar uma decisão e acabamos cancelando esse evento. Postergamos para o mês de outubro. Mas assim, possivelmente, eu acho que vai ser muito difícil realizar outubro ou novembro desse ano”, declara.
“O que não foi realizado esse ano, nós vamos passar novamente para 2021”, diz Frank.
Adaptação

Festival de Orquídeas em Mogi das Cruzes — Foto: Eduardo Hidenori Haga
Festival de Orquídeas em Mogi das Cruzes — Foto: Eduardo Hidenori Haga
Quando a pandemia chegou ao Brasil, o orquidário oriental, que fica na estrada do Taboão, estava em festa. O festival de outono, que atrai gente de várias regiões do país, foi interrompido na última semana com o anúncio do isolamento social. Segundo Mirene Kazue Haga Saab, o evento é fundamental para os produtores e transformou a cidade em referência para os amantes de orquídeas.
“Nas primeiras três semanas eu, como qualquer ser humano ouvindo uma notícia assim, a gente fica meio paranóico. Passava perto do supermercado e não entrava. Evitei sair de casa. Tudo isso aconteceu. Mas quando você tem um quadro e funcionários, colaboradores, o que você vai fazer? Como você vai conseguir fazer o pagamento dos colaboradores? Realmente, as três primeiras semanas nós passamos um sufoco até entender”, declara.
“A medida que o Governo foi soltando as normativas, conseguimos, aos poucos, dar uma relaxada. Ver que, realmente, não sou eu empresária que está no sufoco. Todo o Brasil em si entrou num sufoco”, completa Mirene.
O local realiza quatro festivais no ano, um em cada estação. No começo, esses eventos eram voltados para colecionadores, mas agora o público é bem diversificado. Mesmo com a flexibilização da quarentena, eles foram cancelados.
O espaço está aberto, com capacidade reduzida e seguindo todas as recomendações do Plano São Paulo de retomada da economia, mas muitos clientes ainda preferem as compras on-line. Migrar para o mundo virtual foi um desafio.
“Esse lado da internet, que a gente não era tão familiar, acabamos tendo que reinventar, focar um pouquinho mais. Isso ajudou a gente a manter, realmente, nesse período de pandemia”.