Amores mal resolvidos

O término de um relacionamento não é fácil de lidar, principalmente para aquele que teve que aceitar involuntariamente a decisão do outro. Cada um sofre a seu modo.
Superar o sentimento e seguir a vida é o melhor a fazer para o próprio bem estar. Porém, há aqueles que, mesmo depois de muito tempo, ficam presos ao sentimento, não conseguindo esquecer a pessoa amada, gerando sofrimento e paralisando a própria vida.
Só que, ao contrário do que pensam, para muitas pessoas, o não esquecer pode ser prazeroso nestas situações, uma vez que as lembranças tornam-se um refúgio como forma de compensar alguma dificuldade atual. Assim, cada vez que a vida apresenta-lhe alguma frustração, a pessoa recorre ao antigo amor guardado na memória e, em sua imaginação, vivencia situações de satisfação onde não há mágoas ou ressentimentos.
A pessoa cria e recria cenas de amor sobre tudo aquilo que não foi vivido, idealiza o outro lhe atribuindo qualidades que, muitas vezes, não as tem. Desta maneira, imagina-se num tempo futuro onde tem a certeza, mesmo que irreal e mascarada, que seria feliz e completa se estivesse com a pessoa amada. E mesmo que a realidade insista em mostrar que seu amor está em outra, a pessoa sonha o dia em que este outro vai “acordar” e pedir pra voltar
Amores assim são perfeitos porque se alimentam de fantasia e nela tudo é possível. No entanto esta fantasia não é real e, ao se deparar com a realidade, o sofrimento aumenta.
A imaginação é uma habilidade cognitiva que auxilia o ser humano na resolução de problemas. Pode ser fonte de motivação, quando aponta maneiras de superar obstáculos ou conquistar objetivos. Mas também serve de fuga naqueles momentos em que a realidade se mostra angustiante.
O “pensamento mágico”, onde tudo é permitido, é característica do universo infantil para lidar com os perigos e ameaças que a criança teme. Ela imagina situações num mundo que gostaria que fosse, onde ela pode ser o que deseja, mas não é real. À medida que ela cresce vai aprendendo a buscar outros recursos mais adequados e “reais” pra lidar com as dificuldades da vida.
Os adultos, algumas vezes, recorrem também a este modo de funcionamento para fugir ou afastar a dor, criando uma imagem idealizada. Porém, esta forma deixa de ser um recurso saudável quando é persistente, enganando a mente, impedindo que o indivíduo tenha condições de pensar sobre as situações que precisa enfrentar e assim mudar de atitude.
Nossa mente não vive apenas de recordações. Ela pode e deve ser preenchida com situações mais próximas da realidade, como o encontro com amigos, familiares, ou qualquer outra situação que lhe proporcione prazer de alcance real e não imaginário. Mesmo sendo dolorosa algumas vezes, é preciso encarar a realidade, aceita-la, para evitar sofrimentos desnecessários.
Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga

By Tribuna ABC

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