Letalidade entre as internações por Covid-19 no estado de SP é de 28%; se paciente precisar de UTI, taxa sobe para 49%


Levantamento da TV Globo analisou dados de quase 120 mil pacientes que precisaram de um leito hospitalar entre março e agosto, incluindo quase 38 mil casos graves que necessitaram de UTI. Médicos trabalham na recuperação de pacientes internados com coronavírus na UTI do hospital Emílio Ribas, região central de São Paulo, na manhã desta sexta-feira (14).
Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
Desde o início da epidemia de Covid-19 no estado de São Paulo, mais de um em cada quatro pacientes que foram internados em um hospital acabou entre as vítimas fatais da doença provocada pelo novo coronavírus. Considerando só os pacientes que tiveram quadro mais grave e foram internados em um leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), essa taxa de letalidade sobe de 28% para 49%.
Os dados são de um levantamento da TV Globo feito a partir da análise de quase 120 mil pacientes internados em hospitais públicos e privados do estado. Só foram levados em conta os casos em que houve confirmação da infecção por Covid-19 e onde a internação – no hospital ou só na UTI – ocorreu entre 1º de março e 31 de agosto.
As informações não são divulgadas pelo governo estadual, mas o sistema onde os casos são notificados, chamado Sivep-Gripe, é federal. O Ministério da Saúde divulga, uma vez por semana, uma versão atualizada dos dados de todo o país.
Taxa caiu levemente no decorrer do tempo
Os dados se referem à taxa para todo o período analisado. Considerando as internações por mês, é possível ver, porém, que a taxa de letalidade registrou uma leve queda no decorrer do tempo.
Levando em conta todos os pacientes hospitalizados na enfermaria ou na UTI, a taxa mais alta de letalidade foi registrada em março, quando o desfecho de 1.366 dos 4.556 internados foi a morte, o que representa 30% do total.
Em agosto, porém, a taxa foi de pelo menos 26%. (veja gráfico abaixo)
Já a análise apenas dos pacientes que precisaram ser internados em UTI indica que a taxa de letalidade aumento de 46% em março até o pico em maio, quando mais da metade (52%) dos 7.815 pacientes evoluíram a óbito.
No mês de agosto, a taxa foi de 47%. (veja gráfico abaixo)
Os dados de agosto, porém, ainda podem aumentar, já que 11% dos casos de internação deste mês ainda não tiveram um desfecho informado no sistema.
Aprendizado e internações precoces
Para Ralcyon Teixeira, diretor da Divisão Médica do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, alguns fatores podem explicar esse avanço. Embora ainda não exista tratamento clinicamente comprovado para a doença, há um acúmulo de conhecimento sobre como lidar com os efeitos dela no corpo, como monitorar o comprometimento do pulmão e o momento mais adequado de fazer intubação.
Além disso, há o fato de que a baixa ocupação atual de leitos hospitalares ajuda no atendimento a todos os pacientes.
“Hoje a gente entende um pouco melhor a doença e a qualidade do tratamento que a gente dá tem evitado muitas complicações. Então, a gente tem mudado esse perfil. E com esses leitos que estão sobrando nas últimas semanas, a gente interna os pacientes mais precoces para evitar complicações”, explicou ele.
Apesar da queda, Marcelo Gomes, pesquisador da Fiocruz que coordena o InfoGripe, ressalta que os números ainda são considerados altos.
“É importante a população ter consciência de que os casos graves de Covid possuem uma letalidade muito alta. Quase um em cada três hospitalizados com quadro de síndrome respiratória aguda grave acaba falecendo. Para aqueles que necessitam atendimento em UTI já sobe para um a cada dois pacientes”, afirmou.
Gomes afirma que, embora uma minoria de infectados pelo novo coronavírus vão desenvolver um quadro grave, “10% em 100 casos é apenas 10 hospitalizações. Porém, os mesmos 10% em 9 mil casos já são 900 hospitalizações”. Por isso, ele diz que é importante manter as medidas coletivas e individuais de proteção, não só pelas autoridades, mas também pela população. “É uma questão de respeito ao próximo, fundamental para a vida em sociedade.”
Casos subindo, mortes caindo
No estado de São Paulo, a média móvel de mortes chegou nesta terça-feira (27) a um patamar abaixo de 100 mortes novas por dia pela primeira vez em seis meses. Já a média de novos casos, depois de atingir os menores índices desde março, de cerca de 3,6 mil, tem subido de forma discreta há sete dias consecutivos, e nesta quarta (28) ficou acima de 4,3 mil casos.
Para Jean Gorinchteyn, secretário de Estado da Saúde afirma que as internações no estado estão aumentando nos hospitais particulares, mas caindo nos hospitais públicos, o que pode indicar um aumento nas infecções da população de classe média, com acesso à saúde privada.
“Isso não significa uma segunda onda. isso significa que temos uma redução talvez da velocidade que tínhamos reduzindo o número ou a possibilidade de criarmos um novo platô com um número abaixo daqueles tragicamente vistos nos meses anteriores”, explicou ele.
Após 6 meses, média móvel de mortes por Covid-19 no estado cai para menos de 100 por dia
Para o pesquisador Vitor Mori, do Observatório Covid-19 BR, o ciclo de vida do vírus indica que o aumento de novos casos pode levar, no futuro, a um aumento de mortes.
“A gente sempre tem um atraso entre o aumento de casos e aumento de óbitos. Esse tem diversos fatores, desde o atraso na notificação do óbito, mas principalmente pelo curso natural da doença. Se as pessoas estão se infectando agora, vai demorar até o quadro se agravar gerar uma hospitalização e agravar, possivelmente a um óbito”, afirmou ele.
Já segundo João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do governo estadual, o perfil de novos casos atualmente inclui mais pessoas jovens e sem comorbidades, o que indica que a chance de evolução para um quadro grave da doença.
Mas ele alerta que isso não zera o risco de morte nem pode ser uma tendência prolongada.
“É uma população diferente, mais jovem, mais sadia, com menos problemas de comorbidades e com uma mortalidade muito menor. Isso é definitivo? Não. Nada em relação ao coronavírus é definitivo.”
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By Stella Franceschini

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