Dados foram coletados com informações de 21 prefeituras do Oeste Paulista. Médico infectologista alerta para os cuidados em casa para evitar a contaminação. Médica Maisa Mochi Davanço e o filho Miguel estão entre os casos positivos de Covid-19 em Presidente Prudente
Arquivo pessoal
No final de abril, a médica Maisa Mochi Davanço, de 38 anos, começou a espirrar e notou que estava com coriza. O mesmo aconteceu com o filho dela, o Miguel, de apenas um ano e quatro meses. Dois dias depois, ela foi provar uma papinha que fez para o menino e não sentiu o gosto. “Fiquei assustada, comecei a cheirar desinfetante, querosene e não sentia nada”, contou ao G1. Ela e o menino entraram para a estatística em Presidente Prudente dos casos confirmados de Covid-19. O marido também apresentou vários sintomas, chegou a ficar internado, mas não entrou na contagem porque o teste não confirmou. Somente a filha adolescente não deu sinais de ter sido infectada pelo novo coronavírus.
Esse é apenas um exemplo entre tantas famílias atingidas no Oeste Paulista. Entre as confirmações, são pelo menos 55 famílias que registraram casos entre os parentes. Com a flexibilização da quarentena, o médico infectologista Paulo Mesquita alerta para os cuidados em casa para que o vírus não entre e se alastre entre os moradores.
Os dados foram levantados pelo G1 e levam em conta os casos até dia 5 de junho. Nem todas as secretarias municipais de Saúde contribuíram ou informaram a relação de parentesco entre as vítimas positivas. Dos 56 municípios do Oeste Paulista, há confirmações de novo coronavírus em 54 cidades. Dessas, 21 prefeituras divulgaram os vínculos familiares.
Veja a relação de parentesco entre os casos positivos de Covid-19 no Oeste Paulista:
Adamantina: 8 famílias
Marido e esposa
Marido e esposa
Marido, esposa e sogra
Tia e sobrinha
Marido, esposa e filha
Marido, esposa, filho e filha*
Pai e filho* (*namorados)
Mãe e filha
Anhumas: 1 família
Sogro e nora
Emilianópolis: 1 família
Pai e filho
Flora Rica: 2 família
Primos
Mãe e filha
Flórida Paulista: 2 famílias
Mãe e filha
Marido e esposa
Irapuru: 3 famílias
Marido, esposa e filho
Marido, esposa e filho
Marido e esposa
João Ramalho: 1 família
Avó e neta
Martinópolis: 1 família
Quatro pessoas (parentesco não informado)
Mirante o Paranapanema: 1 família
Avós, pais e filho
Nova Guataporanga: 2 famílias
Irmãos
Marido e esposa
Pacaembu: 3 famílias
Mãe e filho
Marido e esposa
Marido e esposa
Panorama: 1 família
Duas pessoas (parentesco não informado)
Pirapozinho: 2 famílias
Duas pessoas (parentesco não informado)
Três pessoas (parentesco não informado)
Presidente Bernardes: 2 famílias
Marido e esposa
Marido e esposa
Presidente Epitácio: 2 famílias
Marido e esposa
Marido e esposa
Presidente Prudente: 12 famílias
A Vigilância Epidemiológica Municipal (VEM) não informou exatamente a relação de parentesco entre as vítimas dessas 12 famílias. Informou apenas que a maioria é de casais, ou casais e um filho.
Regente Feijó: 4 famílias
Marido, esposa e filho
Pai e filha
Marido e esposa
Marido e esposa
Santo Anastácio: 2 famílias
Marido e esposa
Marido e esposa
Santo Expedito: 1 família
Marido, esposa e filha
Tarabai: 2 famílias
Mãe e filha
Marido e esposa
Teodoro Sampaio: 2 famílias
Marido e esposa
Marido e esposa
Além das relações familiares, algumas cidades também têm colegas de trabalho infectados. A Penitenciária de Pracinha tem três agentes penitenciários que moram em Martinópolis, dois que moram em Indiana e três que residem em Regente Feijó. Em Martinópolis, também há dois funcionários da Santa Casa de Presidente Prudente que foram infectados pela Covid-19.
Médica Maisa Mochi Davanço e o filho Miguel estão entre os casos positivos de Covid-19 em Presidente Prudente
Arquivo pessoal
‘Essa doença é uma caixinha de surpresas’
No dia em que Maisa percebeu que não sentia o gosto dos alimentos, ela procurou um hospital particular de Presidente Prudente. O marido Diego Roberto Monteiro Rampasso, de 37 anos, também sentiu o corpo dolorido, mas era algo leve. A orientação era para que a família ficasse isolada e alguns medicamentos foram receitados.
Maisa acredita que pegou a doença na Penitenciária de Presidente Prudente, onde trabalha e há casos positivos de Covid-19. Já o marido, que trabalha como advogado, passou a trabalhar em casa ou sozinho no escritório, além de fazer as compras no supermercado. “Ele sempre fazia tudo de máscara. O pessoal nem estava usando no início, mas ele estava”, disse.
A médica explicou que a disseminação da doença começa antes mesmo dos sintomas.
“Não imaginava que iria pegar a doença. Eu me cuidava. Chegava em casa depois do trabalho, ia direto para a lavanderia, tirava tudo, tomava um super banho da cabeça aos pés e só após isso tinha contato com a família”, relatou.
A infecção pela Covid-19 foi confirmada pelo teste swab em Maisa e no bebê. Eles tomaram os medicamentos prescritos e a doença não evoluiu com gravidade. Porém, depois de 14 dias, Rampasso começou a ter febre e uma forte dor de cabeça. Ele procurou novamente o hospital particular, fez exames, e disseram que estava tudo normal. Como os sintomas persistiram, dias depois ele retornou ao hospital e o diagnóstico foi de dengue. Como médica, ela suspeitou do diagnóstico e procurou a rede pública de saúde. O teste rápido deu negativo para o novo coronavírus. “Estes testes rápidos são poucos sensíveis, têm taxa alta de falso negativo e ele também poderia estar no início da doença”, contou ao G1.
Como a dor de cabeça não havia passado, ele retornou ao hospital particular e a saturação de oxigênio estava em 92%. “Ele foi internado e fizeram uma tomografia e já tinha 25% dos pulmões comprometidos, mas o [exame de] raios-X estava normal. Ele teve tanta falta de ar que era difícil fazer tarefas simples, como escovar os dentes ou tomar banho”, afirmou a médica.
Foram cinco dias de internação. Rampasso voltou para casa para finalizar o tratamento, ainda com falta de ar. “Ele não piorava, nem melhorava. Não conseguia falar direito, pegar o bebê no colo. Liguei novamente para o médico infectologista e ele disse que a recuperação é demorada, que pode demorar uns 30 dias”, falou a médica.
Agora, Rampasso já está melhor, mas ainda sente falta de ar quando faz algum esforço mais intenso. Ele também foi submetido ao teste swab, mas o resultado foi negativo.
“Sabemos que o swab só dará positivo se for colhido entre o terceiro e no máximo dez dias de sintomas. Como já estava com todo aquele comprometimento pulmonar, sabíamos que havia grande chance de vir negativo. Para nós, médicos, o que importa é a parte clínica e a tomografia apresentou características da Covid-19”, pontuou.
A médica contou que o marido deve fazer um novo teste só para que eles tenham certeza da infecção.
“Essa doença é uma caixinha de surpresas. O Diego é saudável, não pertence ao grupo de risco e quase foi para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Não imaginava que ele sofreria tanto”, afirmou ao G1.
“Além de tudo, me senti muito culpada de trazer o vírus para dentro de casa. Eu tinha até vergonha, me senti impotente. Senti culpa por ter contaminado as pessoas que eu amo. Se eu tivesse perdido algum deles, não sei como seria. Quando você traz uma doença para casa, você se torna responsável por aqui. Tive muito medo pelo Diego, me peguei chorando várias vezes. É super difícil se sentir impotente quando a sua profissão é cuidar do outro, proporcionar a cura. Hoje respiramos aliviados, nos mantivemos firmes, nos apegamos mais em Deus. Valorizamos ainda mais nossa família, nossos filhos, nosso casamento”, acrescentou Maisa.
Somente a filha Isadora Mochi Davanço Silva, de 16 anos, não apresentou sintomas, mesmo convivendo na mesma casa. “Ela fez o teste no sistema particular e deu negativo. Se ela pegou, foi assintomática e o teste foi falso negativo”, comentou a médica.
“Deixo um apelo para que as pessoas levem mais a sério a doença. É momento de se cuidar. Ficar em casa quem puder e não sair de forma desnecessária. Eu me assusto vendo pessoas indo ao shopping, Calçadão. Se tivermos novos casos, serão em grande quantidade. Não teremos leitos para todos. Não existe um grupo de risco apenas, todos podem evoluir para gravidade. Você precisa manter seu lar protegido, pois, quando uma pessoa pega, é difícil não contaminar os outros que moram junto”, finalizou Maisa.
Medidas preventivas
O médico infectologista Paulo Mesquita explicou ao G1 que as medidas de prevenção em casa são as mesmas que na rua: uso de máscara, higiene das mãos e isolamento social. “Manter o distanciamento em casa é algo difícil, principalmente para quem tem filho pequeno, que vem e abraça. É preciso usar a criatividade, ver o que é possível fazer”, afirmou.
Mesquita salientou ainda que o uso da máscara é indicado dentro de casa quando há alguém infectado em uma residência pequena e quando não há como isolar essa pessoa em um quarto sozinha.
“A pessoa precisa ficar isolada dentro de casa. Precisa ter essa medida de distanciamento mais intensa, separar quarto e banheiro, se possível”, pontuou ao G1.
O infectologista frisou que as medidas preventivas precisam ser intensificadas agora que a quarentena foi flexibilizada. “Um vírus não se torna pandêmico se ele não for transmitido de forma eficiente. Todo cuidado é pouco, estamos lidando com um problema que nunca havia ocorrido antes. É uma doença grave, uma pandemia”, disse.
O médico também acrescentou que tudo está “voltando ao normal” e que toda cautela é necessária.
“Vamos ver o que vai acontecer nas próximas semanas. Se novos casos vão aparecer. Tomara que não aumentem. Por isso, é importante usar a máscara, lavar as mãos e evitar a circulação em áreas comuns como Calçadão, shopping, no comércio”, finalizou Mesquita ao G1.
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