/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/5/p/JxLvRcQhuTABsrCV4vgA/000-8qg3ak.jpg)
Grupo de baleias é visto encalhado em uma praia em Macquarie Harbour, na costa oeste da Tasmânia. — Foto: Brodie Weeding/The Advocate via AFP
Grupo de baleias é visto encalhado em uma praia em Macquarie Harbour, na costa oeste da Tasmânia. — Foto: Brodie Weeding/The Advocate via AFP
A morte de quase 400 baleias-piloto-de-peitorais-longas (Globicephala melas) no mês passado na baía da Tasmânia, ao sul da Austrália, chamou atenção do mundo todo para um fenômeno conhecido como o encalhe dos cetáceos. Mas por que esses grandes mamíferos se aproximam da costa e ficam presos?
A bióloga e especialista em baleias Arlaine Francisco explica que há inúmeros motivos: “Encalhes de baleias sempre ocorreram, mas podem ter se tornado mais frequentes com o aumento da interferência humana nos oceanos. Animais vivos podem encalhar por falhas na orientação em locais com topografia complexa, em condições de mar adversas, durante fuga de predadores ou perseguição de presas. Também quando estão doentes ou debilitados, devido à contaminação por toxinas naturais do ambiente e poluição, alterações de temperatura da água e até por queda em estoques de alimentos e interações na pesca ou com barcos”.
Segundo ela, todos esses fatores podem acarretar mudanças de comportamento nas baleias e fazer com que elas tenham erros na percepção do ambiente e acabem presas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/n/0/El9PDpTc2HLjeADnhQww/ap20265349703181.jpg)
Grupo de baleias-piloto encalhadas em um banco de areia perto de Strahan, na Tasmânia, Austrália. — Foto: Brodie Weeding/Pool Photo via AP
Grupo de baleias-piloto encalhadas em um banco de areia perto de Strahan, na Tasmânia, Austrália. — Foto: Brodie Weeding/Pool Photo via AP
Outra expressiva atividade humana que acarreta na desorientação dos cetáceos é a procura de reservas de petróleo e gás natural, com testes de prospecção sísmica e sonares potentes.
“Quando as baleias são expostas ao som alto das explosões sísmicas podem se deslocar rapidamente para a superfície, desenvolvendo uma espécie de doença descompressiva, como a que ocorre em mergulhadores, em virtude do aumento de nitrogênio dissolvido no sangue”, explica a bióloga.
A sobrepesca do krill nas áreas de alimentação da Antártica, principal alimento das grandes baleias de barbatana, é outro fator que possivelmente leva a encalhes. Com menor disponibilidade de alimentos as baleias iniciam a migração mais debilitadas e ficam mais sujeitas à doenças ou intempéries.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/s/n/cSkDqjToyxZBdvjryUAg/baleiaencalha.jpg)
O encalhe de baleias ocorre por diversos motivos, mas pode ter aumentado pela maior interferência humana nos oceanos. — Foto: Coordenação do Protocolo de Encalhes e Enredamentos da APA da Baleia Franca/ICMBio/Divulgação
O encalhe de baleias ocorre por diversos motivos, mas pode ter aumentado pela maior interferência humana nos oceanos. — Foto: Coordenação do Protocolo de Encalhes e Enredamentos da APA da Baleia Franca/ICMBio/Divulgação
A maior parte das baleias e golfinhos encalham depois de mortos e são arrastados para as praias por correntes marítimas. Mas segundo Arlaine esse fenômeno se torna mais preocupante em espécies de hábitos sociais, em virtude do risco de encalhes massivos.
“O encalhe de 460 baleias-piloto-de-peitorais-longas (Globicephala melas), que ocorreu na Austrália em setembro e foi considerado o maior encalhe registrado até o momento, é um exemplo disso. A espécie se reúne em grupos de centenas de indivíduos e em virtude dos laços sociais fortes o grupo pode estar mais exposto a encalhes massivos do que outras espécies”, explica.
O resgate de cetáceos encalhados só deve ser feito por especialistas, que precisam ser acionados imediatamente. É necessário procurar o órgão responsável para cada região.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/5/7/xn9esaQlOgGUouKnWuDw/probav-arlainef-filhote-jubarte-02-10-2020.jpg)
Filhote de jubarte foi visto em Ilha Bela (SP) no início do mês. — Foto: Arlaine Francisco/Arquivo Pessoal
Filhote de jubarte foi visto em Ilha Bela (SP) no início do mês. — Foto: Arlaine Francisco/Arquivo Pessoal
Baleias na costa
A aproximação de baleias na costa, no entanto, também é um fenômeno natural para algumas espécies.
Ao contrário da baleia-azul (Balaenoptera musculus), da baleia-fin (Balaenoptera physalus) e da cachalote (Physeter macrocephalus), que são baleias que passam a maior parte da vida em águas profundas e raramente são vistas, a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), baleia-franca (Eubalaena australis) e a baleia-tropical/Bryde (Balaenoptera brydei), são espécies que frequentam águas mais rasas.
“A aproximação das baleias da costa está relacionada com aspectos oceanográficos, especialmente profundidade e com hábito de cada espécie. Aqui no Brasil nós podemos observar em terra as jubartes, em alguns locais da Bahia e no entorno de Ilhabela, em São Paulo, onde a Bryde e a baleia franca também aparecem. A baleia-franca também pode ser vista em Imbituba, em Santa Catarina e arredores, por exemplo”, diz a bióloga.
Arlaine ainda explica que as espécies às vezes frequentam áreas costeiras depois de migrações, para procriar e amamentar os filhotes e também para se alimentar e reproduzir, dependendo da espécie.