Levantamento mostra que oferta de leitos de terapia intensiva é mais crítica nos estados do Piauí, Amazonas, Acre, Amapá e Roraima. Dados são de 2019. Leitos de UTI no Hospital Regional do Baixo Amazonas, em Santarém. Norte do país tem a menor oferta de UTI para cada 100 mil habitantes
CRGBA/Divulgação
Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que menos da metade dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do país pertencem ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Os dados são referentes a dezembro de 2019 e têm como base o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (DataSUS). Eles não refletem investimentos feitos para o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus neste ano, mas, até 24 de abril, o Ministério da Saúde havia entregado 17,5% do total prometido desde o início da crise – 350 de 2 mil leitos.
Além disso, a maior parte dos brasileiros depende do SUS, mesmo que a maioria das UTIs esteja no setor privado. Um levantamento feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostrou que 23% da população, cerca de 47 milhões, contavam com plano de saúde em 2019. Por outro lado, no SUS, de acordo com o Ministério da Saúde, são 90 milhões de pessoas estão cadastradas nos serviços da atenção primária.
De acordo com o levantamento do IBGE, o país possuía 31.913 UTIs, das quais 15.227 pertenciam à rede pública (48%). Com o agravamento dos casos de Covid-19 no Brasil, especialistas já haviam apontado para a possível necessidade de o governo controlar os hospitais privados para conseguir atender à demanda por leitos.
No início de abril, um estudo assinado por cientistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e pelo secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, apontou cenários com possíveis medidas que podem precisar ser tomadas pelo governo federal no combate à pandemia no Brasil.
O texto alertou para a falta de recursos de saúde e para a possibilidade de o governo requisitar o controle de leitos de hospitais privados, a necessidade de produção de insumos e de mobilização grandes formadores de opinião por uma mensagem única para conter a epidemia.
Nesta quarta-feira (6), o atual ministro da saúde Nelson Teich disse que o SUS precisa ser capaz de enfrentar a pandemia sozinho. Disse que o sistema privado deve ser acionado apenas “no limite”:
“A gente tem que ser eficiente o bastante para fazer com que o sistema público, com que o SUS, seja capaz de enfrentar. Caso você chegue no limite, você vai sentar com a iniciativa privada, vai sentar com a saúde suplementar e vai conversar e vai descobrir uma forma de trazer à saúde suplementar para fazer parte dessa solução do SUS com uma cooperação e não como uma tomada. Isso é importantíssimo, porque a gente tá discutindo aqui uma forma de funcionar do país”, disse Teich.
UTIs disponíveis no Brasil
Carolina Dantas/G1
Situação por região
Segundo o IBGE, considerando as UTIs disponíveis tanto na rede pública quanto privada, as regiões Norte e Nordeste são as que apresentavam a menor oferta de leitos para cada 100 mil habitantes – respectivamente 1,0 e 1,1. No Centro-Oeste esta razão era de 2,2 e no Sul, de 2,6. O Sudeste apresentava a maior razão, com 3,5 leitos por 100 mil habitantes.
Entre os estados, as situações mais críticas foram observadas no Roraima, Amapá, Acre, Amazonas e Piauí. Já o Distrito Federal foi unidade da federação com a maior disponibilidade de leito a cada 100 mil habitantes
“O objetivo desta pesquisa é dar visibilidade a essas diferenças regionais. À medida que a epidemia avança país a dentro, esses dados podem servir de base para a construção de políticas públicas para o enfrentamento à doença”, enfatizou o coordenador de Geografia do IBGE, Cláudio Stenner.
Leitos de UTI por estado
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O IBGE enfatizou que Vitória da Conquista, na Bahia, foi a cidade com mais de 500 mil habitantes com o menor índice de leitos de terapia intensiva do país (11).
“Aliás, estão no Nordeste as regiões com mais de 200 mil habitantes que não têm nenhum leito de UTI, com destaque para regiões do Ceará”, destacou o instituto.
Oferta de respiradores
Ao analisar a oferta de respiradores no país, considerando tanto o SUS quanto a rede privada, novamente as regiões Norte e Nordeste apresentaram a situação mais crítica – ambas com 4,3 respiradores para cada 100 mil habitantes. No Centro-Oeste esta razão subia para 7,9, no Sul para 9,7 e no Sudeste para 10,5.
Entre as unidades da federação, o Distrito Federal novamente despontou com a maior oferta de respiradores – 62 respiradores a cada 100 mil habitantes. Na outra ponta aparece o Amapá, com apenas 10,4 aparelhos por 100 mil habitantes.
Número de respiradores por estado
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O IBGE destacou que entre as regiões de atendimento de saúde com mais de 500 mil habitantes, Santarém, no Pará, teve o pior índice, com 7 respiradores por 100 mil. Já região de Governador Nunes Freire, no Maranhão, era a que tinha a maior população mas nenhum registro de respiradores.
Capital Humano
A pesquisa investigou também a disponibilidade de médicos e enfermeiros no país. Assim como observado quanto à oferta de UTIs e respiradores, Norte e Nordeste contavam com a menor relação destes profissionais por 100 mil habitantes, enquanto o Sudeste apresentava a maior razão de médicos e o Centro-Oeste, de enfermeiros.
Enquanto no Norte e Nordeste havia, respectivamente, 53,8 e 55,5 médicos por 100 mil habitantes, o Sudeste contava com 106,2. No Centro-Oeste eram 82,3 e no Sul, 98,3.
Governo se preocupa com a falta de respiradores para as UTIs
Já a relação de enfermeiros no Norte e Nordeste era de 85 e 87 por 100 mil habitantes, respectivamente, enquanto no Centro-Oeste esta razão chegava a 102. No Sudeste era de 100 e no Sul, 99.
Por estado, a menor disponibilidade de médicos por 100 mil habitantes foi observada no Maranhão (80), Pará (85), Amapá (95), Acre (108) e Amazonas (111).
Já quanto aos enfermeiros, as menores razões foram observadas no Pará (75), Alagoas (100), Goiás (101), Sergipe (101) e Amazonas (102).
“Os dados mostram, de modo geral, que a desigualdade no país se repete na distribuição de recursos humanos e materiais na saúde. Sudeste e Sul são mais bem equipados que o Norte e Nordeste. Essa diferença também pode ser vista dentro dos próprios estados, como Minas Gerais, em que a distribuição é desigual por regiões”, comentou Cláudio Stenner.
Concentração de idosos é maior no Sul e Sudeste
Com base no Censo de 2010, o IBGE constatou que as Regiões Sul e Sudeste são as que abrigavam o maior número de pessoas com mais de 60 anos de idade, um dos principais grupos de risco da Covid-19.
Segundo o levantamento, os estados do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro possuíam mais de 13% da população nessa faixa etária. Paraíba (12%), Minas Gerais (11,8%), São Paulo (11,6%) e Paraná (11,2%) também tinham pais de 10% da população nessa faixa etária.
O Amapá tinha o menor percentual de idosos (5,1%). “O Norte, inclusive, era a região com a população mais jovem”, destacou o IBGE.
Outro dado destacado pelo IBGE indicou que 9,7% dos brasileiros moravam em domicílio que abrigavam mais de três pessoas por dormitório. Ao todo, eram 18,4 milhões de pessoas nesta condição em 2010.
Segundo o instituto, essa característica foi mais marcante na região Norte, com exceção de Rondônia e Tocantins, e no estado Maranhão.
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SUS reúne menos da metade do número de UTIs disponíveis no país, aponta IBGE
